A caixa, a escada e a vizinha
Num destes dias, cheguei a casa e, pouco depois de entrar, tive uma desagradável surpresa, constatei que o meu velhinho frigorífico tinha aproveitado a minha ausência para o seu “passamento”. Encomendei outro. Entreguei o seu “corpo” a um “cangalheiro” da especialidade e, num Sábado, pelas 8 da manhã, estava a receber o seu substituto. Um dos funcionários que trouxe o frigorífico, depois de o colocar no sítio e de me dar algumas explicações da praxe disse:
- Fica ali fora, na escada, encostada um canto, para não incomodar ninguém, a caixa dele. Depois de o ligar e de se certificar que está a funcionar bem, lá para a noite já poderá deitar fora a caixa.
- Ok.
Disse eu e “adeusinho” que ainda tinha o pequeno-almoço a meio.
Mal sabia o bom funcionário a confusão que me ia arranjar com aquela caixa.
Estava com a chávena do café na mão, a meio, quase a chegar à boca, nisto, toca o telefone. Era a minha vizinha do lado.
- Senhor X está em casa? Pensei que não estivesse. Já viu que lhe deixaram o frigorífico na escada?
- Não, não é o frigorífico, é só a caixa, mas muito obrigado pelo cuidado dona Y!
Disse eu e lá expliquei porque é que a caixa tinha ficado na escada.
Nesse dia não levei a caixa dali para fora. Eram já quase 11 da noite e ainda não tinha percebido se estava tudo bem com o novo frigorífico.
No dia seguinte, pelas 9 e tal da manhã, depois de ver que o frigorífico funcionava “muito bem obrigada”, quando me preparava para ir deitar a caixa no lixo, toca o telefone:
- Sou eu, senhor X, a Y, já me fartei de rir sozinha, não é que há pouco, veio da rua o meu marido e me disse que afinal a caixa estava vazia e que a tinha levado para o lixo!
- Ora ainda bem dona Y. Eu ia agora mesmo fazer isso.
Disse eu, interrompendo a sua narrativa e, satisfeito por ter, aquela caixa, aquela caixa que supostamente não ia incomodar ninguém, finalmente fora da escada.
Mas entretanto foi a vez de a vizinha me interromper.
- Pois mas aí é que está a graça. Eu Disse-lhe para ir imediatamente buscar a caixa ao lixo. Que a caixa não era para deitar fora já! “Dei-lhe na cabeça”, perguntei-lhe: - “mas porque é que fazes sempre o que não te pedem e não fazes o que te pedem?” Por isso agora não lhe posso dizer nada, não posso pedir-lhe para ir lá pôr outra vez a caixa!
- Não faz mal, dona Y, obrigado na mesma, eu vou entretanto deitá-la fora.
- Não, não, espere mais umas horas, está bem senhor X? Para ele não ficar “danado” comigo.
- Tudo bem. Nem eu nem a caixa queremos ser causa de brigas domésticas!
Respondi eu, definitivamente conformado, não havia nada a fazer, aquela caixa tinha tirado o fim-de-semana para “amolar” a minha cabeça!