O algodão não engana
Era o dia de ir à “inspecção”, de ir ao médico de trabalho. Normalmente era ao final do dia e aos pares. Naquele dia ia eu e um dos vendedores. Aquilo era um pouco deprimente. O consultório tinha assim, ao final do dia, no Inverno, um ar sombrio, um ar de museu, um ar de museu de cera, se estivesse por lá alguma das pacientes.
Estávamos ainda no escritório, eu e o vendedor, a “planear” essa ida ao final do dia, dizia ele meio a brincar:
- Então J lá vamos nós mais logo levar com os martelinhos?
O médico era neurologista e, para além de dar uma olhadela as análises e a outros exames, claro, não dispensava o uso dos martelinhos para testar os nossos reflexos, acho eu que era para isso, quero acreditar que não era pura tortura.
O nosso chefe ia a passar, ouviu aquilo e disse:
- Vocês gozam com os martelinhos mas olhem que o doutor com os ditos martelinhos descobriu que eu tenho um problema na cabeça! Eu e o vendedor olhámos um pra o outro, sorrimos de modo cúmplice, deixámos o chefe virar costas, entrar no seu gabinete e, quando ele não nos podia ouvir, exclamou o vendedor:
- Esta é boa! Para descobrir que ele tem um problema na cabeça, como está bom de ver, nem era preciso usar os martelinhos!
Concordei com ele.
Nota: Nada tenho contra o dito chefe. Tirando o facto de ser mais papista que o papa nos aumentos. O único defeito era esse mesmo, o de ser o nosso chefe.