Há olhares e olhares
Um dia, no bulício das horas de ponta, ao sair do METRO, como é meu hábito, fiquei na plataforma da estação a aguardar que o “mar” de gente lá se decidisse por subir as escadas. Entretanto, um minuto ou dois depois, já com o caminho um pouco mais desanuviado, quando estou também quase a me decidir a seguir a “onda”, vislumbro um “pedaço” de mulher, no meio da multidão, a lutar contra acorrente, a começar a descer essas mesmas escadas. Demoro-me mais um pouco, de modo a poder apreciar melhor o “naco”. Desavergonhadamente, o meu olhar tirou as medidas todas, de baixo para cima, centímetro a centímetro, o exame demorou-se de tal modo pelas “apetitosas” curvas, que quando, finalmente, chegou ao seu rosto (falta imperdoável esta), esse exame dos bicos dos pés até à raiz dos cabelos, pois, se tivesse tido um sentido contrário, se tivesse tido início no seu rosto, esse pequeno (grande) pormenor, sem dúvida, teria evitado o embaraço que se seguiu. A dita senhora acaba de descer as escadas e, com um sorriso maroto nos seus olhos, de braço estendido dirige-se até onde eu estou “plantado” já com um ar, escusado será dizer, meio patético (e muito aterrorizado), a responder ao cumprimento e à pergunta, que entretanto, a senhora me tinha formulado: Como está J?
Com efeito, aquela “deusa” desconhecida, que eu tinha despido com o olhar, ainda há pouco, de repente, transforma-se numa pessoa minha conhecida, uma pessoa do meu círculo (estritamente) profissional. Se eu pudesse, naquele preciso momento, teria procurado o refúgio, ali tão à mão, do acolhedor e escuro túnel, onde, ainda há pouco, se tinha “esfumado” a composição do METRO!