Uma dupla (im)batível
O episódio que aqui vou contar é muito curto mas é bem demonstrativo daquilo que viria acontecer nos dias de hoje em geral. Na altura era uma excepção agora é quase regra. Custa muito aos pais deixarem os filhos “voar” e, aos filhos também parece custar bastante dar o primeiro passo nesse sentido. E assim vão crescendo sem nunca crescerem de facto.
Um certo dia, há uns anos largos, um amigo, à mesa, com uma cerveja fresquinha na mão, num café, aborrecido, disse-me:
- Ontem fui com a minha avó a Lisboa por causa de um emprego. Mas acho que, para variar, não me vão chamar.
Este meu amigo era um pouco (muito) para o avesso a esse tipo de item na actividade económica, o de ter um trabalho, ou pelo menos na procura do dito cujo. A família, lá em casa, lá está o que eu escrevi anteriormente, primeiro condescendeu, foi deixando que ele se sentisse bem no “ninho” e, à medida que o tempo ia passando e ele nada de procurar um trabalhinho, aí sim, começou a tentar dar uma “ajuda” nesse processo. Puxou dos conhecidos, vulgo das cunhas e, toca de empurrar o rapazinho para entrevistas com essas “cunhas”. Mas a coisa não dava em nada. Ou a cunha era fraca ou então o esforço do candidato para agarrar o emprego era nulo. Na dúvida, o melhor, de futuro, era acompanhar o menino a essas entrevistas. Daí a insólita e improvável (e condenada ao insucesso acrescentaria eu) dupla, neto e avó, numa entrevista de emprego.
- E era para quê?
Perguntei eu inocentemente.
- Era para guarda prisional.
Respondeu o meu amigo.
Escusado será dizer que fiquei de boca aberta perante aquilo.
Provavelmente foi a primeira e a única vez que alguém foi com a avó candidatar-se para tomar conta de presidiários!